Outubro Rosa: maioria dos diagnósticos precoces ocorre quando não há sintomas ou sinais do câncer de mama

Mamografia é o exame mais indicado para detectar, precocemente, a presença de nódulos. Exames clínicos e laboratoriais também auxiliam no reconhecimento da doença

19/10/2022 – Depois de se curar de um câncer de mama em 2004, a empresária Carla, protegida nesta reportagem por um nome fictício, adquiriu novos hábitos de vida que lhe apresentaram um novo mundo, inimaginável antes do diagnóstico. Hoje, ela caminha diariamente, medita e faz hidroginástica, uma vitória para quem era sedentária. Mas o sucesso do tratamento deu-se muito por causa da descoberta da doença em estágio inicial. “Após a biópsia confirmar que o câncer era maligno, fui operada e iniciei logo a quimioterapia. Naquela época, 19 anos atrás, o tratamento tinha muitos efeitos colaterais. Eu passava muito mal, mas minha vontade era só de me cuidar. Procurei continuar com minhas atividades e felizmente melhorei”, conta.

A boa notícia, em meio ao turbilhão de emoções que a doença causa, é que a experiência positiva de Carla é quase uma regra para as mulheres que identificam o câncer no início. O diagnóstico precoce aumenta as chances de cura. Cerca de 95% dos casos descobertos em estágio inicial têm um final feliz. Segundo a secretária de saúde do Tribunal Superior do Trabalho (TST), Esterlina Araújo, quando a mulher apresenta sinais e sintomas, geralmente o diagnóstico dá-se em fase bastante avançada da doença. “Quase a totalidade dos diagnósticos precoces ocorrem na fase em que ainda não há sinais e sintomas, e eles são feitos por meio do exame médico e dos exames de imagem e de biópsia”, destaca. 

Entre os vários exames que auxiliam as mulheres na detecção do câncer, está o autoexame. Esterlina Araújo recomenda realizá-lo rotineiramente, uma vez por mês, em dias ou períodos previamente fixados. Não é recomendado fazê-lo em dias variados, pois as mamas sofrem alterações de volume, densidade e sensibilidade de acordo com o período menstrual. Embora seja importante, o autoexame possui limitações. “O autoexame só detecta nódulos palpáveis e maiores. Ele não substitui o exame médico nem os exames de imagem”, diz a médica. 

Para um diagnóstico seguro, é primordial a realização dos exames de mamografia, ecografia mamária, ressonância magnética, seguidos por biópsia da lesão ou do nódulo suspeitos. Segundo Esterlina Araújo, se houver histórico de câncer na família da mulher, especialmente família materna, é imperioso a realização de exames e o controle logo após o diagnóstico desse familiar. “Habitualmente, recomenda-se a realização da mamografia a partir de 35 anos para as mulheres que possuem fatores de risco aumentados, e, a partir de 40 anos, para as mulheres sem fatores de risco aumentados”, diz ela.

No Brasil, mulheres a partir de 40 anos têm amparo legal (Lei 11.664/2008) para solicitar que seja feita mamografia de rastreamento. O Ministério da Saúde recomenda, contudo, a mamografia de rotina em mulheres sem sinais e sintomas de câncer de mama a cada dois anos, a partir dos 50 até os 69 anos de idade. Após os 70 anos, a periodicidade dependerá da orientação médica. 

Sintomas importantes

Em geral, o primeiro sinal da doença costuma ser a presença de um nódulo único, não doloroso e endurecido. Foi assim com Carla, a personagem desta reportagem. “Eu passava por uma fase emocionalmente conturbada. Um dia, sem querer, esbarrei com um dos braços e senti um nódulo na mama. Fui ao médico e, após uma punção, detectamos que era maligno”, conta a empresária.

Outros sintomas, porém, devem ser considerados. Segundo Esterlina Araújo, é preciso atenção com dor mamária, saída de secreção dos mamilos, alterações da pele das mamas, deformidade e/ou aumento da mama, gânglios axilares aumentados, vermelhidão e infecções. “Esses sintomas devem ser examinados por uma/um mastologista, que solicitará os exames e estabelecerá o controle periódico”, observa.

Estigma

As dores inerentes ao tratamento de Carla tiveram a companhia de outros infortúnios, de ordem emocional. Segundo ela, a partir do diagnóstico, internamente, desenvolveu-se o estigma de que pessoas próximas poderiam afastar-se caso soubessem da doença. “Realmente, eu não queria que as pessoas ficassem sabendo ou com pena de mim. Mais tarde, quando ficaram sabendo, percebi que muita gente que se dizia amiga realmente havia se afastado”, afirma. 

Mestra em Biotecnologia em Medicina Regenerativa, Priscila Borba afirma, em seu artigo – “Câncer de mama: Os impactos psicológicos causados na mulher após o diagnóstico” -, que a representação do câncer, como um mal, exprime, de fato, um sentimento de desvalorização social. “O preconceito da sociedade em relação ao câncer de mama faz com que muitas pacientes procurem manter segredo sobre sua doença, por medo de serem rejeitadas. O risco de depressão é maior em pacientes jovens e no primeiro ano após o diagnóstico do câncer”, destaca. 

Câncer de mama masculino

Apesar de incomum, estimativas nacionais indicam que 1% dos casos de câncer de mama afeta os homens brasileiros. Segundo a secretária de saúde do TST, os homens devem ficar atentos aos sintomas e realizar o autoexame periodicamente. “Sintomas como aumento do volume das mamas nos homens devem ser examinados pelo mastologista. Embora seja bastante raro, os homens podem ter câncer de mama e devem procurar o especialista assim que notarem alterações nas mamas”, diz a doutora.

Sobre esse assunto, um processo judicial que tramitou no TST resultou em condenação por causa de discriminação. A Primeira Turma considerou discriminatória a dispensa por justa causa aplicada pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) a um empregado com câncer de mama. A empresa argumentou que ele havia abandonado o emprego, mas diversas faltas foram justificadas por atestados médicos que relatavam a doença. De acordo com a jurisprudência do TST (Súmula 443), presume-se arbitrária a dispensa de trabalhador com doença grave que suscite estigma ou preconceito, cabendo prova contrária ao empregador. Para o colegiado, a CSN não se desincumbiu desse ônus.

Outubro Rosa

O movimento internacional de conscientização para a detecção precoce do câncer de mama, Outubro Rosa, foi criado no início da década de 1990, quando o símbolo da prevenção ao câncer de mama — o laço cor-de-rosa — foi lançado pela Fundação Susan G. Komen for the Cure e distribuído aos participantes da primeira Corrida pela Cura, realizada em Nova York (EUA). A prova é, desde então, promovida anualmente.

O período é celebrado no Brasil e no exterior com o objetivo de compartilhar informações e promover a conscientização sobre o câncer de mama, a fim de contribuir para a redução da incidência e da mortalidade pela doença. O câncer de mama é o tipo que mais acomete mulheres em todo o mundo, tanto em países em desenvolvimento quanto em países desenvolvidos.

No Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer de mama é o mais incidente em mulheres de todas as regiões, com taxas mais altas nas regiões Sul e Sudeste. Para o ano de 2022, foram estimados 66.280 casos novos, o que representa uma taxa ajustada de incidência de 43,74 casos por 100 mil mulheres.

Tratamento pelo TST-Saúde 

As usuárias e os usuários do Programa TST-Saúde possuem várias opções para prevenção e tratamento do câncer de mama. Pelo aplicativo TST-Saúde, é possível visualizar  todas as clínicas credenciadas. Basta o beneficiário filtrar pela especialidade “Oncologia”, já que não há uma classificação específica para filtragem por câncer de mama. 

Veja as clínicas credenciadas.

(Rodrigo Tunholi/GS)

Fonte: TST
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